domingo, 24 de janeiro de 2010

A onda que se ergueu no mar


Meu pai ia à praia com os amigos e me levava junto. Eles não jogavam frescobol, não faziam caminhada e nem entravam na água, apenas bebiam cerveja e conversavam. Eu ficava por perto, construindo valas e pequenos muros. Nem pensar em construir castelos de areia. Não era um arquiteto e sim um ajudante de pedreiro. Um dia, uma onda se ergueu no mar e me levou. Meu pai conta que ele e os amigos estavam justamente conversando sobre este magnífico verso da bossa nova e caíram no mar para me salvar. Minha mãe, depois que se separou do meu pai, contava uma outra versão. Segundo ela, meu pai e os amigos demoraram a notar minha ausência. Um deles teria comentado: "Javo, cadê aquele moleque que fica te pedindo sorvete toda hora?" Meu pai teria olhado não para o mar, mas para areia, onde costumava ficar o sorveteiro que parecia estar sempre por perto para atender os pedidos do seu melhor cliente, e que tinha desaparecido. Olhou então para o mar e lá estava eu, rolando nas ondas, sem dar um pio. Eu sempre fui quieto e não ainda não conhecia a palavra "SOCORRO!" Ele os amigos me pescaram e me enxaguaram para tirar a areia. O novo susto me deixou sem forças para contar à minha mãe o que tinha me acontecido. Ela, mesmo assim, desconfiou, porque durante muitas semanas continuou saindo areia do meu ouvido. Ainda hoje, 50 anos depois, sempre que acho um grão de areia na orelha me pergunto se ainda é daquele dia.

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