quarta-feira, 26 de maio de 2010

À sua espera






















Estarei sempre à sua espera
cheio de surpresas nos bolsos:
a sua foto que acho mais bela,
e o bilhete com sua letra miúda,
pedindo para eu não te esquecer
e nem pensar em outra menina.

Levo comigo ainda o convite
para a peça do Teatro dos Sonhos,
em que você era sempre Julieta,
a falar de rouxinóis e cotovias, e
a apertar meu rosto no seu peito,
numa longa e macia despedida.

Guardo o papel onde desenhei
seu rosto no Bar das Estrelinhas,
com cabelos de mar revolto e olhos
de sóis gêmeos e amendoados.
e os versos que te faziam Fada,
Sereia, Princesa, Rainha da Magia.

Da Praça dos Suspiros, aquela que
se abre no Bosque dos Namorados,
trago a pedra branca, lisa, perfeita,
que vai rolar como grão de areia,
como prova de nosso amor sincero,
enquanto houver vida e existir mundo.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Borboleta de sonho
















Meu amor por você,
borboleta de sonho,
segue o traçado
de seu voo alegre.
Está nas piruetas
mais leves que o ar
que roçam as asas
de seus lábios rosa.
É improviso de cor,
silêncio de perfume
e dança de adoração
ao seu olhar de sol.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Suas mãos são estrelas
















Suas mãos são estrelas,
Pequenos sóis rosados,
Corações de cinco pontas,
Lua cheia de cinco raios.

Seus olhos são miragens,
Cometas no azul marinho,
fogueiras de ouro e prata,
Centelhas de outro mundo.

Seus cabelos são caminhos,
Trigais que o vento alisa,
Labirintos de anéis e seda,
Horizontes em desalinho.

Seus lábios são flamingos,
Delicadezas de coral macio,
Morada de orvalho doce,
Framboesas de domingo.

domingo, 16 de maio de 2010

Tarde de sol




















Uma tarde de sol brilhante
decidi seguir seus passos na rua
quando você sem querer revelou
a penugem macia de sua nuca.
Era um dia de azul perfeito e você,
com fones no ouvido, dançava
enquanto esperava o sinal abrir.
O vestido com flores coloridas
se colava nos seios e nas ancas,
subia numa coxa e na outra,
e ficava dizendo que era pouco
o que me separava de você.

Dance comigo no escuro




















Dance comigo no escuro,
menina do vestido de prata,
e escute a canção do luar.
Dance comigo no manto azulado
e deslize ao som das estrelas.
Siga o rumor alegre da canção
e deixe teu sonho te embalar.
Dance comigo nas sombras
e faça meu corpo te encontrar.
Menina dos olhos de fantasia
me veja como o seu destino
e deixa eu te olhar como o meu.
E se a melodia te fizer cantar,
inventando palavras doces,
com histórias de romances,
lembre que a canção do amor
começa no silêncio de um beijo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Manhã de sol


Que o mar de sua vida esteja calmo e com águas mornas.
Que a praia tenha areias finas para acariciar a passagem dos seus pés.
Que uma brisa leve afague seus cabelos.
Que você cavalgue a alva crista das ondas,
com os braços abertos para o calor dourado dos raios do sol.
Que as gaivotas façam festa pela sua presença linda no oceano.

terça-feira, 11 de maio de 2010

A Rua do Jogo da Bola


Em São João del Rei (MG), tem a Rua do Jogo da Bola. Morei ali perto, a menos de 50 metros de distância e me orgulhava da vizinhança, assim como tenho um grande carinho por todos os momentos de minha vida em que passei correndo atrás de uma bola. Pernas e braços ralados, dedos roxos, machucados de todo o tipo, mas nada que tirasse o sorriso de felicidade do rosto. O quadro de Portinari comove pelo que revela do amor ao futebol como espaço sagrado da infância. Minha irmã tinha dificuldade para acertar um chute, mas se divertia tanto quanto eu, talvez até mais. No meu colégio, os padres sisudos viravam crianças correndo atrás da bola em suas longas batinas negras. Lembro do sorriso largo do meu avô ao devolver com o é uma bola que tinha ido parar no seu caminho. Mesmo hoje, na TV, de vez em quando exibem um documentário sobre mulheres africanas empenhadas num jogo de bola. Algumas caem, outras correm enlouquecidas como se estivessem disputando o jogo de suas vidas, e todas mostram uma felicidade que não se vê por aí com tanta espontaneidade.
Acho que são coisas muito distintas: o prazer do jogo de bola e o esporte competitivo. Algumas vezes, numa competição, temos momentos de magia. E são esses momentos que levam as pessoas aos estádios e criam toda a expectativa em torno de uma Copa do Mundo. Por isso, acho injusto que queiram do Dunga uma seleção de artistas, porque ele vai ser cobrado pelos resultados. Só houve uma vez na história em que uma seleção deu show de bola e ganhou todas as partidas que disputou. Foi em 1970, com o Brasil tricampeão no México. Acho muita pretensão e insensibilidade das pessoas querer que este momento mágico se torne uma rotina.

O melhor de mim são os livros


Tem livros que, quando a gente termina, sente gratidão por estar vivo, por ter aproveitado o curto período de uma vida para ler e sentir o prazer que um livro pode proporcionar. Nem todos os livros são bons. Aliás, são poucos os livros realmente bons. É preciso ler muito para reconhecer um bom escritor e um trabalho em que um grande escritor foi feliz e esteve inspirado.
Tentei muitas coisas na vida, realizei coisas de que me orgulho, mas nenhuma delas tem a perfeição que é a leitura de um livro excepcional. A sensação é de que cumprimos nossa missão na vida, alcançamos o êxtase que só a arte pode proporcionar. Acredito que minha vida teria sido em vão se eu não tivesse lido "Em busca do tempo perdido", de Marcel Proust. O efeito da leitura de "A montanha mágica" e "Os Buddenbrook", de Thomas Mann, foi tão forte em mim que durante muitos anos tentei aprender alemão, para ler estes livros que amo no original. Não consegui,o alemão é muito difícil, mas aprendi inglês para ler no original "Tender is the night", de F. Scott Fitzgerald, e "A moveable feast", de Ernest Hemingway.
O prazer de ler mudou a minha vida. Não consigo fazer uma viagem sem levar dois ou três livros na mochila. Estou convencido de que durmo melhor quando tenho muitos livros bons na mesa de cabeceira. Mesmo sabendo que os livros bons são raros, busco na leitura o poder de encantamento das histórias de Monteiro Lobato. Queria ser capaz de inventar a Condessa das Três Estrelinhas. Eu, que sou guloso e estou sempre com fome, esquecia de jantar para ler as histórias do Tarzan, de Edgar Rice Burroughs. Li clássicos muito antes de ter maturidade para entender alguns dos problemas abordados. Eu já desconfiava disso mas foi lendo "Judas, o obscuro", de Thomas Hardy, que tive a certeza de que a vida não faz graça a ninguém.
Quando chegar a hora, quando eu perceber que não terei mais forças para seguir vivendo, terei uma certeza e uma satisfação. Falhei em tudo, como Fernando Pessoa, não me destaquei em nada, mas li livros que poucos leram, que poucos terão a oportunidade ou a vontade de ler, mesmo que vivam mais 30 anos do que eu. E para ler estes livros, é preciso ter dedicado a vida à leitura. Poderão falar que tive uma vida medíocre, mas eu vou saber que tive momentos de plenitude e ninguém vai me tirar isso. Meus ideais vão continuar vivos, muito depois de minha morte, e estão nos livros, para que novas gerações leiam e sintam a mesma alegria que eu. O melhor de mim são os livros e eles vão existir para sempre.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Luar sobre as ondas
















Luz do mar que a minha estrela guia
Crista de espuma que faz da prata lua
Escamas de pérola a saltar em água viva.

Meu amor é a sereia que a proa aponta
A bússola dos sonhos a nortear o sul
A gaivota que o cesto da gávea acolhe.

O que sou é o deslizar entre o ar e a água
o flutuar sobre o abismo de azul marinho
a contemplar os brilhos infinitos do céu.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Fresta cor de rosa















A noite traz de volta as luzes
que eu seguia quando menino.
Pequenos pontos de cor verde,
vaga-lumes enfeitando sua casa.
Círculos de luz no chão da rua,
dos postes sempre de plantão.
Estrelas, cometas e asteróides,
mistérios brilhantes do firmamento.
A lua que se escondia no telhado,
o reflexo de tudo quando chovia.
E a pequena fresta cor de rosa
que de sua janela me seduzia.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Poemas para uma emergência
















Morreu Calau Lopes, um dos primeiros amigos que fiz em Petrópolis. Ele era na época diretor do Departamento de Parques e Jardins e começava a recuperar o lago do Cremerie, depois de décadas de abandono. Eu tentava fotografar para um jornal da cidade os patos e marrecos que viviam por lá. Depois disso, Calau entrou para a política, com grande sucesso, e nos distanciamos.
Meu ideal político não sobreviveu aos anos de faculdade. Achava perfeitas as frases de Karl Marx, de que "Um homem angustiado por uma necessidade não tem senso algum, mesmo para o mais belo dos espetáculos" e "De cada um, de acordo com as suas possibilidades, e a cada um, de acordo com as suas necessidades". Mas a leitura dos livros de História e as reportagens mais profundas dos jornais me mostrou que eram apenas frases, que todos os regimes, sem exceção, cometem injustiças, e que os regimes socialistas cometiam mais injustiças que os liberais. Achava romântico Che Guevara lutar pela sua vida contra os militares de governos corruptos em Cuba e na Bolívia, mas não aprovava o Che que mandava opositores políticos para serem fuzilados en el paredón.
Era um prazer conversar com Calau Lopes. Afável, culto,Calau preferia falar comigo sobre outras coisas, que não a política. Rimos muito quando descobrimos que tanto eu quanto ele guardávamos na cabeceira da cama as obras completas de Fernando Pessoa, a que recorríamos como uma espécie de caixa de primeiros socorros, nas mais variadas situações da vida. Vou guardar para sempre a lembrança do Calau que gostava de teatro, que considerava as praças uma espécie de templo para o cidadão comum, e que lia os mesmos poemas de Fernando Pessoa que eu.
Acho que a política fez mal a Calau Lopes. Muita gente vai discordar. Gente que me considera ingênuo, uma pessoa incapaz de ver que é preciso quebrar ovos para se fazer omeletes. Pode ser. Continuo achando que os ovos devem ficar nos ninhos, até que deles surjam novos pássaros que vão levar para o céu azul, em suas asas de liberdade, todos aqueles ideais que acalentamos e que vão sempre renascer em outros corações.