domingo, 31 de janeiro de 2010
Prece numa igreja vazia
Sempre que ganha algum dinheiro, Matthew Scudder separa 10% e deposita na caixa de esmolas da primeira igreja que encontrar. Não interessa o que o padre ou o pastor vai fazer com o dinheiro. Matt confia que vai ser usado para o bem, e isso basta. Assim que deposita o dinheiro, Matt senta-se na igreja vazia e pensa na menina que morreu com a bala que foi disparada de seu revólver contra um bandido, mas ricocheteou em algum ponto do caminho e a atingiu no olho. Matt estava perseguindo um assaltante que havia acabado de matar um garçom num bar. Estavam trocando tiros e Matt estava tentando cumprir sua obrigação de policial e se defender. A polícia, depois de uma investigação minuciosa, o isentou de culpa, mas Matt abandonou a profissão e passou a beber descontroladamente. Seu casamento acabou e ele passou a viver num hotelzinho barato de Nova York, aceitando pequenos bicos que os amigos arranjam para ele sobreviver. Matt encontra forças para parar de beber nas reuniões do AA, onde ouve histórias terríveis sobre o que as pessoas são capazes de fazer às outras e a si mesmas.
Matt faz a gente pensar que alguns dos erros que cometemos na vida não são superados. Muitas vezes nem são erros, como no caso de Matt, mas situações em que nos envolvemos e das quais não conseguimos sair inteiros. Em seu trabalho, Matt vê a cara feia do Mal todos os dias. Nas reuniões do AA, vê que não há limites para a degradação humana. Mesmo assim, mesmo sendo um bom sujeito que assume sua culpa e tenta fazer algum bem, Matt não consegue alívio. Viver talvez seja isso: seguir em frente, carregando culpas cada vez mais pesadas, num corpo cada vez mais velho e cansado, na esperança de uma oportunidade de fazer o bem e compensar tudo o que não deu certo no nosso caminho.
Matthew Scudder, tão real em seus problemas, não é uma pessoa e sim o personagem de uma série de romances policiais criada pelo americano Lawrence Block. Mas não passa um dia sem que eu não me veja ao lado dele, numa igreja vazia, pensando nas minhas culpas e na dureza que é tirar algum bem dessa vida.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Um dia perfeito para peixe-banana
Morreu, aos 91 anos, J. D. Salinger, o autor de "O apanhador em campo de centeio", que é a melhor história que já li sobre um adolescente perdido num mundo de adultos. O que fica do livro é o desejo do seu personagem principal, Holden Caulfield, de levar uma vida em que sua única preocupação seria tomar conta de crianças brincando num campo de centeio, para que elas não se afastassem dos limitres do campo e não corressem riscos. Um ideal de vida puro e poético, humilde a ponto de poder ser seguido por santos, pessoas iluminadas e por bêbados que só fazem mal a si mesmo, incapazes de encontrar um lugar num mundo de ganância e incompreensão.
Salinger escreveu também um conto chamado "Um dia perfeito para peixe-banana", que também trata da incompatibilidade entre os nossos sonhos de fraternidade e um mundo de conflitos e discriminações. A melhor homenagem que fizeram a Salinger está no filme "Campo dos sonhos", em que um fazendeiro transforma seu milharal em campo de beisebol para que as pessoas possam ver jogar craques do passado que já passaram para o andar de cima. O maior aliado deste fazendeiro sonhador é um escritor, Terence Mann, que, como Salinger, desistiu de publicar livros para que não fossem mais objeto de distorção por parte fanáticos que usam qualquer pretexto para a prática do mal.
Hoje, dia da morte de Salinger, não é um dia perfeito para peixe-banana, mas que os outros, a partir de hoje, possam ser, para as pessoas de bem que sonham com um mundo em que a imaginação una as pessoas por amor e magia.
domingo, 24 de janeiro de 2010
Corrida de cavalos e um corvo
Meu pai era um jornalista conhecido na noite carioca e minha mãe dançava nos espetáculos de Carlos Machado, no Cassino da Urca. Eles podiam morar num apartamento entre Copacabana e Ipanema. Mas aí eu apareci e tudo mudou. Logo ficou claro que eu não podia viver ali:
1 - Um dia me pegaram empoleirado numa cadeira ao lado de uma janela escancarada, no 5º andar, empenhado em jogar os livros do meu pai na calçada. A sorte era que os livros eram finos, leves, e não devem ter machucado ninguém. Só por isso escapei de ter um homicídio no meu currículo antes mesmo de aprender a escovar os dentes e a amarrar meus sapatos.
2 - Eu gostava de apostar corridas com a minha mãe, sem que ela soubesse. Estávamos subindo de elevador e eu queria sair primeiro que ela, assim que as portas se abrissem. Só que cheguei muito perto e meu pé ficou preso entre o elevador e a parede, sendo arrastado. Minha mãe começou a berrar, pegamos um táxi e eu tentei colocar o dedo num buraco do pé de onde esguichava sangue. Minha mãe me deu um safanão e disse: "Tira o dedo sujo daí, seu idiota!". Eu pensei: "Pera lá, idiota não! Só porque prendi o pé no elevador?"
3 - Prova de que eu não era tão idiota assim é que eu sempre mostrava ao meu pai o novo esconderijo da minha mãe com o dinheiro para as compras da casa. Adorava saber de alguma coisa que ele não sabia. Minha mãe dava falta do dinheiro e ia até a janela olhar a calçada, talvez pensando em encontrar uma multidão à espera de mais uma de minhas demonstrações de desapego ao papel impresso. Um dia ela descobriu a verdade e foi um fuzuê. Até hoje me admiro da capacidade de meu pai de sustentar uma longa discussão em que ele era acusado de usar o dinheiro do pão e do leite para apostar nas corridas de cavalo.
4 - Eu tinha um amigo que morava numa casa em frente. Fui lá brincar uma vez. Era verão. Aliás, no Rio, é sempre verão. Estava sem camisa. E no meio da brincadeira um corvo pousou no meu ombro. Era domesticado e não me atacou, mas gritei assim mesmo e saí correndo. Anos mais tarde, quando vi "Os Pássaros", de Alfred Hitchcock, me diverti muito com as criticas que falavam de simbolismo. Que simbolismo, o que! Era a história de minha vida.
A onda que se ergueu no mar
Meu pai ia à praia com os amigos e me levava junto. Eles não jogavam frescobol, não faziam caminhada e nem entravam na água, apenas bebiam cerveja e conversavam. Eu ficava por perto, construindo valas e pequenos muros. Nem pensar em construir castelos de areia. Não era um arquiteto e sim um ajudante de pedreiro. Um dia, uma onda se ergueu no mar e me levou. Meu pai conta que ele e os amigos estavam justamente conversando sobre este magnífico verso da bossa nova e caíram no mar para me salvar. Minha mãe, depois que se separou do meu pai, contava uma outra versão. Segundo ela, meu pai e os amigos demoraram a notar minha ausência. Um deles teria comentado: "Javo, cadê aquele moleque que fica te pedindo sorvete toda hora?" Meu pai teria olhado não para o mar, mas para areia, onde costumava ficar o sorveteiro que parecia estar sempre por perto para atender os pedidos do seu melhor cliente, e que tinha desaparecido. Olhou então para o mar e lá estava eu, rolando nas ondas, sem dar um pio. Eu sempre fui quieto e não ainda não conhecia a palavra "SOCORRO!" Ele os amigos me pescaram e me enxaguaram para tirar a areia. O novo susto me deixou sem forças para contar à minha mãe o que tinha me acontecido. Ela, mesmo assim, desconfiou, porque durante muitas semanas continuou saindo areia do meu ouvido. Ainda hoje, 50 anos depois, sempre que acho um grão de areia na orelha me pergunto se ainda é daquele dia.
Chapolin sacode o mundo
Chávez acusou os Estados Unidos de terem provocado o terremoto no Haiti. Segundo ele, foi um teste para que esta nova arma seja depois aplicada no Irã. A declaração sacudiu o mundo, abalando os alicerces do bom senso. Vamos resgatar o que pode haver de verdade nos escombros de tanta sandice. Se fosse verdade, Chávez não teria feito a denúncia, pois ninguém puxa briga com quem é capaz de produzir terremotos. Chávez teria que ter supepoderes para fazer frente a uma máquina de guerra que vira o chão pelo avesso. Só por ser Chávez, ele não é Chapolin, ainda que se vista quase sempre de Colorado.
Chama a atenção na denúncia de Chávez que a marinha americana é que estaria produzindo os terremotos. Ora, a marinha estaria mais propensa a produzir maremotos, pois estaria no seu meio e não precisaria desembarcar. E não ficou claro também o mecanismo dos tremores: já há quem admita que todos os telefones celulares roubados no mundo estariam sendo depositados em meio às placas tectônicas e acionados no modo vibrador. O efeito seria mais devastador que o de mil britadeiras dessas usadas para fazer pequenos terremotos no asfalto de nossas rua.
A acusação de Chávez contou com o apoio de Vladimir Putin, que foi da KGB e sabe como é difícil conseguir amigos que acreditem nas nossas teorias da conspiração. Outro que apoiou Chávez foi King Yong-il, norte-coreano que só anda de salto alto e que gosta de borrifar o seu metro e meio de altura com os mais caros perfumes franceses. Yong-il não pode ser levado a sério, porque o que ele mais quer é comandar catástrofes que destruam o planeta. Além do mais, Yong-il, em norte-coreano, quer dizer Madame Satã. Ahmadinejad também apoiou Chávez, mas ele é amigo do Lula e juntos eles devem ter fugido dos mesmo livros e das mesmas escolas. Consultado a respeito das denúncias de Chávez, um especialista em armas teria perguntado: "Quem o Chávez pensa que comanda a marinha americana? O Godzilla?"
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Urso Bipolar
Urso Polar vive no Polo Norte. Uso Bipolar viveria tanto no Polo Norte quanto no Polo Sul.
Como ele está em extinção no seu atual habitat, o Ártico, onde tem como predadores os esquimós, minha sugestão é de que ele seja levado para a Antártica, onde a espécie humana é representada por cientistas, criaturas nem um pouco agressivas. A mudança dos ursos polares para o Polo Sul poderia ser patrocinada por fábricas de alvejantes, em troca da cessão do direito de imagem para comerciais de sabão em pó.
Os pinguins, que só são encontrados no Polo Sul, não iam gostar desta história de ter ursos bipolares como vizinhos, com certeza desconfiados de que eles iriam se interessar em diversificar com aves a sua tradicional dieta à base de carne de foca. Mas os pinguins, que costumam aparecer nas praias brasileiras, poderiam esticar sua viagem e estabelecer colônias no Polo Norte, onde os ursos andam escassos, e quase extintos.
Além disso, a engenharia genética está muito avançada, sobretudo no ramo das aves. Se os cientistas conseguiram produzir em laboratório o Chester e a Ave Fiesta, que têm mais peito e coxa, bem que poderiam desenvolver um pinguim tropical, com menos penas. Livres de seus casacos pesados, seria uma questão de tempo os pinguins se adaptarem às praias do Nordeste, formando ninhos sob os coqueiros e palmeiras.
Os ursos bipolares que sentissem saudades da terra (ou melhor, gelo eterno) de seus ancestrais, poderiam se cadastrar como voluntários para viagens científicas patrocinadas por fábricas de leite de coco e outros produtos que, a exemplo deles próprios, são branquinhos como a neve.
sábado, 16 de janeiro de 2010
Alternativa hippie
A gente tenta ser normal até que chegam as primeiras notas vermelhas no curso primário, até que a primeira namorada nos dá o fora, até o dia em que não somos escolhidos para jogar a pelada de sábado, até que fica claro no emprego que você não vai muito longe, até que no casamento você descobre que passa mais tempo lavando louça e pagando contas do que brincando de rolar na cama. Existem várias comunidades no Orkut dedicadas ao tema de que se tudo der errado, eu viro hippie.
Isto significa que, se não der para ser normal, você tem duas opções: continuar tentando (e vai ser chato assim lá no esquindim do barulhete) ou passar a fazer o que gosta. Esta última opção abre um grande leque bem colorido de possibilidades: aprender a cozinhar com sotaque francês, frequentar um grupo de dança que tenha um nome sugestivo como Vamos Balançar o Esqueleto, escrever poemas sem pé nem cabeça, visitar o ponto final do maior número possível de linhas de ônibus, prestigiar todos os bares que servem café expresso com creme de chantilly e paquerar da maneira mais romântica e bem humorada possível a vizinha, a cunhada, a colega de trabalho e a moça da loja de xerox. E seja lá o que Deus quiser! Até porque tudo indica que Ele não queria que você fosse normal mesmo.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Em favor de George Costanza
Personagem do seriado "Seinfeld", George Costanza tinha muitos defeitos, mas pelo menos uma qualidade. Ele tinha uma noiva e não queria mais casar com ela. Seu amigo Jerry perguntou por que ele não terminava o noivado. George respondeu que isto estava fora de cogitação, porque ele não era capaz de encarar a decepção no rosto da noiva quando ele desse a notícia. Preferia casar com uma mulher de quem não gostava, e levar uma vida infeliz, do que causar sofrimento à noiva.
Num mundo em que as pessoas usam o pescoço das outras como degraus para conseguir ma promoção no trabalho, a disposição para o sacrifício é coisa rara. Mais ainda no caso do egoísta e comodista George Costanza. Durante o seriado, o público viu George passar por uma série de situações humilhantes e ridículas, mas no caso da noiva, que acabou morrendo envenenada ao colar os selos nos convites para o casamento, George foi sublime. É uma esperança para todos nós. Talvez um ato sublime, no final da vida, seja nossa redenção e faça com que alguém lembre da gente com carinho.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Geraldine Chaplin e as chacretes
Recebi por e-mail duas fotos mostrando o que o tempo fez com as chacretes. Eu estava procurando uma foto da Geraldine Chaplin para uma comunidade do Orkut. Queria uma do tempo em que ela fez Dr. Jivago. Achei, mas vi também outras de como ela está agora, a caminho dos 65 anos. As coisas boas passam e acabam. Pensei nas atrizes que me fizeram sonhar, nos filmes e livros que não vou ver e ler depois que morrer.
Mas, quanto às chacretes, nunca fui um fã, mas elas me comovem agora, exibindo sorrisos de quem viveu o que a vida pôde dar. Nenhuma delas nunca me apaixonou, como o fizeram Geraldine Chaplin, Julie Christie, Catherine Deneuve, que me levavam a ver filmes que me fizeram pensar, mesmo naquela época, que a beleza, como a vida, é mais que uma foto, é o que a gente imagina que viu, é o sentimento bom que esta ilusão provoca.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Jogo de bola
Era uma bola para uns 80 alunos jogarem durante o recreio do curso primário. Corriam todos atrás da bola. Alguns passaram o primário todo sem conseguir chutar a bola uma vez. Era uma gritaria de batalha campal. Às vezes, saía um gol, mas era raro. A bola não saía do meio da confusão. Quando chutava, ela rolava alguns centímetros. A gente se empurrava, caía, ralava o joelho, se sujava. O gol era o que menos importava, até porque ninguém sabia a que time pertencia, para quem o gol contava, qual era o placar.Teve um dia que a bola parou a poucos metros de um dos gols. Parou no meio de umas 20 pernas. Todos se atracaram, empurrando de um lado para o outro, até que a bola passou a linha do gol. Todos comemoraram. Foi o primeiro gol unânime da história do futebol. Descobrimos que todos jogávamos no mesmo time, o da magia do jogo de bola.
domingo, 10 de janeiro de 2010
Nove dragões
Comprei um livro chamado "Nove dragões". O título é melhor do que qualquer história que se escreva a respeito. Imaginei nove dragões diferentes, cada um com seu jeito de ser. Depois pensei em nove dragões iguais, atuando em conjunto. Se um já é assustador, mesmo sabendo que não existem, imagine nove... O que fariam?
Acompanhariam os quatro cavaleiros do Apocalipse? Singrariam os sete mares? Ficariam insones durante mil e uma noites? Enfrentariam os três mosqueteiros ou os trezentos de Esparta?
Procura-se um agente secreto
sábado, 9 de janeiro de 2010
Nos trilhos da alta espionagem
Já foi o tempo em que um romance policial, para ser bom, se limitava a um mistério que podia ser resolvido sentado numa poltrona com um pouco de bom senso. Agora, é preciso pesquisar a História. É o caso dos romances de Martin Cruz Smith e de Philip Kerr.
Cruz Smithé um especialista em história da Rússia e da extinta União Soviética. Seu principal personagem, o inspetor Arkady Renko investiga casos como a aparição do fantasma de Stálin no metrô de Moscou, o desastre nuclear de Chernobyl e a presença dos russos em Cuba.
Philip Kerr ganha todos os prêmios de romance policial com fundo histórico. Ele se interessa pela Alemanha do início do Século XX. Sua trilogia Berlin Noir é uma das obras-primas do gênero. O personagem principal é Bernie Gunther, investigador que acompanha a Alemanha antes, durante e depois do nazismo. E vai atrás do genocida Adolf Eichman quando ele se refugia na Argentina depois da guerra.
Martin Cruz Smith e Philip Kerr percebem que a história contemporânea só pode ser entendida a partir do que aconteceu na Rússia e na Alemanha. Moscou e Berlim, mesmo com o fim da Guerra Fria, fazem parte do imaginário ocidental. Um agente secreto, para ser levado a sério, tem que percorrer de trem o leste da Europa e caminhar de madrugada pelas ruas escuras destas duas capitais.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
O novo motorista da Mercedes
Esperamos que Schumi, novo motorista da Mercedes, escuderia preferida por nove entre dez motoristas de ônibus, não faça como seus colegas de coletivos, que andam devagar quando estamos com pressa.
Ele terá, com certeza, problemas de comunicação com os boxes, porque a maioria dos carros da Mercedes trazem o aviso de que só deve falar com o motorista o indispensável.
Schumacher será o primeiro motorista da Mercedes a usar capacete e macacão. Depois dele, será difícil convencer os profissionais do volante da empresa a vestirem no trabalho apenas calça preta e camisa social azul clara.
Uma das vantagens de pilotar uma Mercedes, Schumacher vai logo descobrir, é que os carros da empresa adoram dar voltas antes de atingir o seu destino.
Pena que os circuitos da Fórmula-1 sejam em mão única, porque a confraternização entre motoristas de Mercedes é mais fácil em vias de mão dupla, com buzinadinhas e piscadas de farol quando cruzam um pelo outro, mas Schumacher descobrirá alguma forma de fazer uma saudação a um conhecido nas arquibancadas do circuito de F-1, nem que tenha que bater com a mão na lataria.
Os fãs não param de enviar palavras de incentivo ao novo motorista da Mercedes. Palavras como: "não pise no capô", "é proibido estacionar nos degraus" e "um passinho à frente, por favor".
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Os usos da verdade
O capitão do navio escreveu no diário de bordo:
- O imediato está bêbado hoje.
O imediato leu e foi ao capitão pedir para que apagasse a anotação, argumentando que ia prejudicar a carreira dele. O capitão se negou, dizendo que o diário de bordo era para registrar o que acontecia fora do comum no navio.
No dia seguinte, era a vez do imediato fazer anotações no diário de bordo. Ele escreveu:
- O capitão está sóbrio hoje.
Saúde para dar e vender
Acompanhando uma tendência da Rua do Imperador, a Rua Marechal Deodoro tem agora três farmácias, duas delas inauguradas no mesmo dia. A grande concentração de farmácias e drogarias em Petrópolis é baseada numa pesquisa de mercado. O petropolitano médio teria declarado a um pesquisador que gosta de ter 10 farmácias em torno dele. Em vez de ter de correr atrás de médicos, consultas, exames e internações, o petropolitano olha as farmácias ao seu redor e tem a ilusão de que o sistema de saude está à disposição dele.
Automobilismo popular
Michael Schumacher vai voltar a correr. Desta vez, pela Mercedes, a escuderia preferida por nove em cada 10 motoristas de ônibus. Se o automobilismo não ficar popular agora, é melhor voltar a promover corridas de carinhos de rolimã.
O imperador Adriano acertou seu salário com o Flamengo. Dizem que vai ganhar R$ 650 mil por mês. As negociações não incluíram vale-transporte e ticket-refeição.
O tetracampeão Bebeto vai ser o técnico do América. Tem tudo para bater o recorde de chororô do Campeonato Carioca, até agora em poder do Cuca, quando treinador do Botafogo.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Mais comunidades interessantes
- Eu sustento esse palhaço é o nome de uma comunidade muito concorrida do Orkut. A ilustração é a cara do Ronald, o palhaço do McDonald's.
- Buena Vida Anti-Social Club é uma das muitas comunidades dedicadas aos anti-sociais. As mais radicais proíbem seus integrantes de se adicionarem e de qualquer tipo de confraternização nas postagens. Algumas proíbem até mesmo as postagens.
- Eu sou pára-raio de louco. Esta comunidade é injusta e só parcialmente verdadeira porque todo mundo é pára-raio de louco. Como os raios, os relâmpagos e outros fenômenos da natureza, os loucos não escolhem suas vítimas.
- Lerê lerê, Lerê lerê lerê. A ilustração é uma cena da novela "A Escrava Isaura". Comunidade auto-explicativa. Um dos tópicos mais concorridos é "O barulho do chicote". O pessoal que rala muito, que se sente explorado por este mundo cruel, é o público-alvo.
- Estou te hipnotizando. Descrição da comunidade: me amarás para sempre a partir de agora. Dedicada aos românticos que precisam de resultados práticos.
Romances policiais
O que há de novo no mundo dos romances policiais? Aí vai uma contribuição de quem procura o tempo todo uma resposta para esta pergunta.
- James Lee Burke, autor de "O coração da floresta", criou um personagem, Billy Bob Holland, que conversa com o fantasma de seu melhor amigo, a quem matou por acidente numa missão contra narcotraficantes. Billy Bob largou a polícia e se tornou advogado de defesa, apaziguando o fantasma quando aceita causas perdidas em que não aceita nenhum tipo de pagamento.
- Lawrence Block, autor de "Oito milhões de maneiras de morrer", é o autor das aventuras de Matthew Scudder, um ex-policial que frequenta as reuniões dos Alcoólicos Anônimos e deposita na caixa de doações da primeira igreja que encontra em seu caminho 10% de tudo que ganha com o seu trabalho.
- Lawrence Block (na foto, tendo ao fundo uma ponte famosa de Nova York) tem um outro personagem interessante, o matador profissional John Keller, que coleciona selos para se distrair de seu trabalho estressante. Num de seus casos, Keller encontra uma astróloga competente, que descobre o que ele é com base nos dados que ele forneceu para a confecção de seu mapa astral.
- Henning Mankell, escritor sueco, é um dos melhores do gênero. É o autor das aventuras de Kurt Wallander, um policial desiludido com a profissão e que ama uma mulher que vive em outro país. Wallander tem hábitos estranhos, como se hospedar em pequenas hospedagens de veraneio em pleno inverno sueco e ler sobre batalhas navais da guerra que a Rússia e o Japão travaram em 1905.
- Michael Connelly deu o nome do conturbado pintor Hyeronimus Bosch ao detetive da polícia de Los Angeles que é protagonista de seus romances. Bosch é traumatizado pela guerra nos túneis cavados pelos vietcongs para resistir com sucesso aos americanos e vê a presença dos coiotes em sua cidade como sinal de esperança para a vida selvagem.
- Robert Crais escreve as aventuras de uma dupla de detetives, Elvis Cole e Joe Pike. Elvis tem um relógio de Pinóquio e um telefone do Mickey Mouse em seu escritório. Joe Pike é a mais anti-social das criaturas. Não fala com ninguém, não tira os óculos escuros e mandou tatuar nas costas setas que apontam para a frente, num sinal de que não faz concessões.
- Brian Eisler escreve os casos de John Rain, filho de pai japonês e mãe americana, um matador profissional que vive às turras com a CIA e tem que usar todos os seus truques para não ser eliminado pela concorrência. Seu maior drama é ser apaixonado pela filha de um político japonês que matou antes de conhecê-la.
Tatuagem de dragão
Estréia em março o primeiro filme da trilogia "Milenium", uma saga policial que tem como protagonista Lisbeth Salander. Ela é uma espécie de Harry Potter mal comportada, com tatuagem de dragão, piercings e nenhum escrúpulo para invadir os computadores das pessoas que investiga. Lisbeth se tornou um sucesso instantâneo desde que suas aventuras foram publicadas por Stieg Larsson, um jornalista sueco que morreu de um ataque cardíaco aos 54 anos logo depois de concluir a trilogia. Existem várias comunidades no Orkut dedicadas a Lisbeth Salander, Stieg Larsson, a trilogia Milenium. Existem perfis fake de Lisbeth Salander. E tudo isso antes do filme chegar ao Brasil. Como o cinema tem maior alcance que a literatura, a tendência é de que aumente a Lisbethmania. Os tatuadores que se preparem, incluindo em seus mostruários os mais variados tipos de dragão e vespas (sim, apesar de franzina, Lisbeth achou um lugar em seu corpo para tatuar uma vespa, seu codinome na rede mundial de computadores.
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