domingo, 12 de setembro de 2010

A primeira vez que vi o seu rosto

Uma simples foto pode desencadear uma série de emoções. Algumas previstas e esperadas, como saudades e nostalgia. Outras, rebeldes e dilacerantes, difíceis de compreender, indomáveis. Estas últimas estão ligadas às armadilhas do tempo, seu jeito de ir e vir, sua forma de lembrar que não somos nada. Ou melhor, somos alguma coisa, mas não aquilo que pensamos ser, aquilo que achamos que controlamos e que é a nossa imagem convencional, nosso cartão de visita perante o mundo. Eu diria que o tempo mostra que somos aquela pessoa aflita, descabelada, com os olhos brilhando de paixão, os lábios entreabertos de perplexidade, que refletiu o momento em que nos demos conta de que perdemos o grande amor de nossas vidas, que deixamos de viver preciosos momentos de felicidade.
A foto que pode nos deixar assim, perdidos no tempo e no espaço, sem uma segunda chance, sem qualquer possibilidade de consertar nossos erros, pode ser a foto que nunca vimos antes de uma antiga namorada. Dá uma vontade imensa de ter estado ali, naquele dia, no momento em que a foto foi tirada, ver o que o fotógrafo viu, sentir o que ele sentiu ao registrar para sempre tanta beleza, tanta paixão, a dor eterna de uma vida tão efêmera, tão frágil, tão passageira.
Vemos na foto a namorada que nunca tínhamos visto e que nunca mais vamos ver. E dá a vontade de viver tudo aquilo, todos os dias em que ela foi assim tão adorável sem a nossa presença. Passamos muito distraídos por esta vida, deixamos de ver e viver o que é importante, procurando em outra parte o que está, ou esteve, ao nosso lado. É duro saber que a primeira vez que vi o seu rosto foi numa foto que me apareceu 40 anos depois.

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