segunda-feira, 19 de julho de 2010

Kawai





Aos 79 anos, Yolanda canta um trecho em japonês de uma canção que aprendeu com uma colega de colégio. A colega, de uma família de imigrantes japoneses pobres que se estabeleceu na periferia de São Paulo no início do século 20, ensinou outras músicas, mas Yolanda só lembra desta, que começa com a palavra "Kawai", que quer dizer bonito. Esqueceu o nome da colega, que era sua companheira inseparável na escola, há quase 70 anos. A amizade acabou porque Yolanda, num impulso, resolveu ir até o endereço que sua amiga tinha dado. Yolanda era criança, mas ficava sozinha em casa. Seus pais e a irmã saíam para trabalhar, e ela admite que não tinha juízo. Os japoneses, ou pelo menos alguns deles, naqueles tempos de Império do Sol Nascente, faziam restrições a amizades não nipônicas. A nissei foi se afastando de Yolanda e ficou apenas o trecho da nação que começa com a palavra "Kawai". Quando Yolanda canta, está tudo lá: a amizade perdida e a admiração por um povo e uma cultura. Só a rejeição ficou fora. Yolanda guardou no coração a parte do Japão que lhe coube e que começa com a palavra "Kawai". Bonito.

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