quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ainda estou lá, naquele distante lugar do passado







Uma pessoa querida procurou um terapeuta em busca de ajuda para uma ansiedade que prejudicava sua concentração para as provas da faculdade. O terapeuta disse que muitas vezes fazemos coisas que não queremos fazer, que nos causam muito dano emocional e até físico, e não sabemos por quê. E citou como exemplo o amigo ou namorada de que nos afastamos, mesmo gostando muito deles, sem que houvesse uma razão para isso.
Fico pensando em como a minha vida teria sido diferente, se eu tivesse sido ajudado a superar este estranho comportamento. Lembro de uma música de Lupiscínio Rodrigues, em que ele falava que os moços têm a tendência de deixar o céu, por ser escuro, e ir ao inferno à procura de luz. A canção falava também da incapacidade dos moços de ouvirem conselhos de modo a evitar esta armadilha contra eles mesmos.
A gente se afasta de quem nos faz bem e procura a companhia de quem nos faz sofrer. Este é um mal tão imenso que deveria haver meios de prevenção, disponíveis a todas as pessoas desde a adolescência. Depois passamos a vida querendo voltar ao momento anterior ao rompimento, para salvar nossos corações e almas.
Este é o tema do livro "Trem noturno para Lisboa", de Pascal Mercier. Como o personagem principal, eu ainda estou lá, naquele distante lugar do passado, nunca saí de lá. Continuo sendo o menino que escondia o rosto nos braços de meu avô, para não ver os horrores que imaginava no Trem Fantasma do parque de diversões. Continuo sendo o garoto que voltava com a namorada a pé da escola só para estar por mais tempo perto dela. Quando deixamos determinado lugar, deixamos para trás um pedaço de nós. E há coisas em nós que só recuperamos se voltarmos para lá.

Um comentário:

  1. Ah querido Alvaro!
    Existem coisas que perdi na passada do tempo e que sei jamais vou recuperar.
    De sonhos ainda guardo a menina de cabelos dourados ao vento e pés descalços e secretamente, lá num cantinho do coração, uma esperança boba.

    Obrigada por me dar a oportunidade de ler coisas tão lindas!

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