terça-feira, 20 de julho de 2010

Eu amo São Paulo!















Assim que desembarquei em São Paulo, vi um senhor de certa idade usando um sobretudo e um chapéu dos anos 40, andando empertigado como um personagem de Antônio de Alcântara Machado ou saído de um bar onde tivesse por companhia Adoniram Barbosa. Logo em seguida, vi dois travestis que esperavam um colega que vinha do Rio. Os três eram muito bonitos e ricamente vestidos, com bom gosto, fazendo pensar nos prazeres que São Paulo à noite pode oferecer. Um pouco distante do centro de São Paulo, que parece uma cidade européia de cinema, vi uma casa simples, onde coabitavam um papagaio de verdade e um punk tatuado, com um penacho vermelho de laranja à guisa de homenagem aos valorosos guerreiros moicanos. O papagaio e a arara. E o rapaz não tinha nada de agressivo. Muito pelo contrário, teve toda a paciência do mundo para dar indicações de um hotel para uma família careta.
Na mesma rua do papagaio e da arara, vi um gato preto doido. Ele ficava no meio da rua, encarando os carros que vinham na sua direção, como se quisesse hipnotizar os faróis do veículo. No último segundo, ele evitava o atropelamento, saltando para o lado e dirigindo sua atenção para um portão de ferro que, com certeza, queria convencer a se abrir sozinho. Não que ele precisasse disso.
Em nenhum momento fui esnobado, e olha que tive que abordar um monte de gente na rua para saber como chegar a este ou aquele lugar. Três caras num bar interromperam uma conversa que parecia bem animada para dizer onde ficava uma rua próxima. A caixa de uma lanchonete sugeriu várias formas de fazer um upgrade no sanduíche e no milk-shake. Um motorista de táxi foi solidário com nossos comentários irônicos sobre as diferenças entre as informações de um site e a dura realidade. Um motorista de ônibus provocou um pequeno congestionamento para explicar como chegar a determinado bairro. E não debochou do fato de que a solução estava do outro lado da rua.
Pois é, eu amo São Paulo. E nem inclui nas razões para este amor o fato da cidade ter o melhor pão que já provei e um frango assado parrudo como um pitbull, bem diferente dos galetos, quase passarinhos que encontramos em outras cidades. São Paulo é grande demais, são muitas realidades convivendo no mesmo espaço, na mesma estação de metrô, tão grande que a gente aprende a dar valor às pequenas coisas ao nosso redor, como um café com pão, uma paisagem ou o gato doido que me hipnotizou sem sequer ter me olhado.

Um comentário:

  1. O seu modo peculiar de olhar uma paisagem que me parece simples, e trazer à tona toda a riqueza de movimentos que existem nela, me encanta. Um dia aprenderei a olhar a vida assim. Que sua viagem seja cheia de inusitados encontros. Um abraço!

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