terça-feira, 13 de julho de 2010

Confissões de travesseiro

Tem um episódio no seriado Dr. House em que ele aprende com seu amigo Wilson a falar com uma pessoa amada, que não está presente, na hora em que estamos deitados, esperando o sono chegar. Wilson conta como foi seu dia à amada Amber e diz que tomou uma sopa de ervilhas. House conversa com o pai e admite que nem tudo foi ruim no relacionamento com o pai e que aconteceram coisas boas.
A sensação é de conforto: ter a oportunidade de dizer coisas que não puderam ser ditas e que talvez tivessem feito toda a diferença. Admitir erros e falhas, contar em detalhes porque amamos determinada pessoa, assumir culpas por este romance ou aquela amizade não terem dado certo.
Com a cabeça no travesseiro, entre a vigília e o sonho, estamos acima da ditadura do tempo. Podemos voltar ao passado e viver situações que foram marcantes, voltar à encruzilhada em que tomamos o caminho errado. No livro "Trem noturno para Lisboa", o personagem principal tem a sensação de voltar 38 anos no tempo e viver de novo um momento decisivo.
Pena que a maioria de nós, em situações decisivas, adote sempre a solução mais prática ou mais cômoda. A gente teme abraçar o sonho, teme as consequências, e depois lamenta pelo resto da vida. Como teria sido bom ter ficado com a namorada de infância, ainda que na época parecesse que não havia futuro, que eu não teria emprego, que ficaríamos sozinhos para enfrentar o mundo.
Talvez seja por isso que "Romeu e Julieta" seja a melhor história de amor. É a história de um amor radical, sustentado com paixão dia a dia, contra tudo e contra todos. No final da vida, a gente suspira e diz para o travesseiro: eu deveria ter ficado com a minha namorada de infância. E, se nos separassem, eu deveria ficar na calçada o dia todo, olhando para a casa dela, para o quarto onde brilha a chama da minha vida.

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