quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A lição de Avner


Tem gente que faz depressa coisas coisas que, devagar, não faria. Faz depressa para não pensar sobre elas. Faz porque decidiu que ia fazê-las e se apressa para que ninguém o detenha com argumentos sensatos e emotivos. Esta foi a lição que Aver (Eric Bana) aprendeu em "Munique", de Steven Spielberg, de um dos integrantes do comando israelense que saiu pela Europa vingando as vítimas do massacre das Olimpíadas de Munique, em 1972. Uma vingança inútil, que gerou mais mortes e mais terrorismo.
Estou convencido de que não é só na guerra que as pessoas agem assim, contrariando seus próprios interesses, comprometendo sua própria felicidade. A vida é apresentada como uma corrida em que temos que ficar de olho na linha de chegada. Só depois, se chegarmos em primeiro lugar, é que poderemos ser felizes. Na escola, todos os meses, faziam festa para o primeiro da turma, o que tinha melhores notas. Ninguém falava que é preciso gostar do que se faz, que um trabalho deve ser alguma coisa que aproxime as pessoas e ajude o mundo a ser um pouquinho melhor. Que, em vez de uma corrida alucinante,a vida pode e deve ser um passeio distraído pelo parque. Poucos chegam ao topo, muitos se matam tentando. E que topo é este? Um degrau que vai logo ser superado por alguém mais determinado e menos escrupuloso.
A maior tristeza não é fracassar nesta corrida pelo sucesso. A maior tristeza é perceber que não se teve a sabedoria, o instinto aguçado, a percepção de ter se recusado logo no início a participar dela. Em vez de fazer uma faculdade pensando no diploma, ler os clássicos, ler tudo que poderia ser interessante. Mas lendo pelo prazer de ler, por curiosidade. Em vez de fazer um concurso, trabalhar no que se gosta, ser artesão, ser um poeta que nunca será conhecido, fazer um trabalho voluntário. Mas, pode-se morrer de fome assim. Sim, é verdade. Mas quem disse que temos de ser eternos? A vida do passarinho que vi morrer nas mãos de um amigo, quando eu era pequeno, vale menos que a minha? Certamente que não. O passarinho não causou mal a ninguém, enquanto que eu fiz sofrer a muita gente, incluindo a mim mesmo, por ter andado pela vida com pressa, fazendo coisas em vez de pensar se era certo fazê-las.

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