terça-feira, 8 de junho de 2010

A noite em que o termômetro parou


O termômetro da praça em frente à minha casa parou esta noite. Devia estar fazendo uns 8 graus, temperatura em que os pinguins ainda tiram a camisa e tomam sorvete. Mas, o termômetro, que só faz isso na vida, teve um piripaque. Nós que não fomos feitos para isso, e vivemos num país tropical justamente para evitar estas situações congelantes, temos que aguentar esta mensagem das geleiras eternas dos confins do mundo, sem ter nem a compensação de saber a quantas andava a frialdade. Os militantes do Greenpeace que não apareçam por aqui tão cedo para alertar sobre o aquecimento global, pois serão recebidos com a devida frieza.
Esta não foi a primeira vez que o termômetro da pracinha congelou. Sempre que a temperatura cai para um dígito, ele se recusa a trabalhar. É como se hibernasse. É como se tivesse abandonado tudo para se abrigar numa caverna, nos braços de um urso com pelo amaciado à base de Comfort. As altas temperaturas ele aguenta bem. Não derrete, nem se abana. Deveriam colocá-lo numa esquina do Deserto do Saara, na confluência de uma rota de caravanas, para informar a temperatura aos tuaregues. Se bem que - um nômade que eu conheço me informou - à noite, as areias do deserto esfriam, como se tivessem sido substituídas por gelo em pó. Não ia dar certo.
Chuvas torrenciais, calor senegalesco, fogos de artifício, engarrafamentos, buzinaços, trovões e relâmpagos, nada afeta o termômetro da pracinha. Só o frio intenso. Talvez ele sofra de má circulação, talvez não seja movido a mercúrio, como os termômetros caseiros, e sim a água, que é ecologicamente correta, mas congela. Talvez seja ajustado manualmente. Um homenzinho vem e, sem que ninguém veja, ajusta os números. Só que, quando o frio aperta, ele pega no sono, junto a alguma lareira, e abandona o termômetro à própria sorte. E o termômetro, sabendo disso, se recusa a funcionar, imaginando que alguém vai ligar para a companhia reclamando e o homenzinho terá que vir conversar sobre graus centígrados, fazendo com que tudo volte à normalidade.

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