terça-feira, 11 de maio de 2010

O melhor de mim são os livros


Tem livros que, quando a gente termina, sente gratidão por estar vivo, por ter aproveitado o curto período de uma vida para ler e sentir o prazer que um livro pode proporcionar. Nem todos os livros são bons. Aliás, são poucos os livros realmente bons. É preciso ler muito para reconhecer um bom escritor e um trabalho em que um grande escritor foi feliz e esteve inspirado.
Tentei muitas coisas na vida, realizei coisas de que me orgulho, mas nenhuma delas tem a perfeição que é a leitura de um livro excepcional. A sensação é de que cumprimos nossa missão na vida, alcançamos o êxtase que só a arte pode proporcionar. Acredito que minha vida teria sido em vão se eu não tivesse lido "Em busca do tempo perdido", de Marcel Proust. O efeito da leitura de "A montanha mágica" e "Os Buddenbrook", de Thomas Mann, foi tão forte em mim que durante muitos anos tentei aprender alemão, para ler estes livros que amo no original. Não consegui,o alemão é muito difícil, mas aprendi inglês para ler no original "Tender is the night", de F. Scott Fitzgerald, e "A moveable feast", de Ernest Hemingway.
O prazer de ler mudou a minha vida. Não consigo fazer uma viagem sem levar dois ou três livros na mochila. Estou convencido de que durmo melhor quando tenho muitos livros bons na mesa de cabeceira. Mesmo sabendo que os livros bons são raros, busco na leitura o poder de encantamento das histórias de Monteiro Lobato. Queria ser capaz de inventar a Condessa das Três Estrelinhas. Eu, que sou guloso e estou sempre com fome, esquecia de jantar para ler as histórias do Tarzan, de Edgar Rice Burroughs. Li clássicos muito antes de ter maturidade para entender alguns dos problemas abordados. Eu já desconfiava disso mas foi lendo "Judas, o obscuro", de Thomas Hardy, que tive a certeza de que a vida não faz graça a ninguém.
Quando chegar a hora, quando eu perceber que não terei mais forças para seguir vivendo, terei uma certeza e uma satisfação. Falhei em tudo, como Fernando Pessoa, não me destaquei em nada, mas li livros que poucos leram, que poucos terão a oportunidade ou a vontade de ler, mesmo que vivam mais 30 anos do que eu. E para ler estes livros, é preciso ter dedicado a vida à leitura. Poderão falar que tive uma vida medíocre, mas eu vou saber que tive momentos de plenitude e ninguém vai me tirar isso. Meus ideais vão continuar vivos, muito depois de minha morte, e estão nos livros, para que novas gerações leiam e sintam a mesma alegria que eu. O melhor de mim são os livros e eles vão existir para sempre.

3 comentários:

  1. Não é de hoje que sua escrita me comove.
    Mas esta, especialmente me tocou. Eu lamente o tanto que não li, o tanto que ainda não leio e que eu tenha que ficar presa aos livros da técnica, por questões profissionais. Livros de poesia alimentam um pouco minha alma, junto com das tais técnicas, mas minha alma está sempre com fome, deve ser fome de literatura.
    Eu invejo no bom sentido - no sentido de querer ser igual e ficar feliz, porque há gente assim no mundo - pelo tanto de cultura que você tem, dentre as tantas coisas que está na composição desta sua cultura eu sei que há muito nela da literatura.
    Beijos!

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  2. Concordo muito com a Helô, e digo mais, Alvaro alimenta sonhos e vontade de saber mais.
    beijos meu poeta!!!

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  3. aff.. ler é mais que respirar, costumo dizer...

    qdo criança, minha mae, com medo das historias de babás que maltravam as crianças, me deixava numa biblioteca, enquanto ela trabalhava..

    agora tenho fome e mais fome de livros.. todos!!!! mas qdo a gente se depara com aqueles melhores, é mais que respirar!!!

    bjos

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