terça-feira, 11 de maio de 2010

A Rua do Jogo da Bola


Em São João del Rei (MG), tem a Rua do Jogo da Bola. Morei ali perto, a menos de 50 metros de distância e me orgulhava da vizinhança, assim como tenho um grande carinho por todos os momentos de minha vida em que passei correndo atrás de uma bola. Pernas e braços ralados, dedos roxos, machucados de todo o tipo, mas nada que tirasse o sorriso de felicidade do rosto. O quadro de Portinari comove pelo que revela do amor ao futebol como espaço sagrado da infância. Minha irmã tinha dificuldade para acertar um chute, mas se divertia tanto quanto eu, talvez até mais. No meu colégio, os padres sisudos viravam crianças correndo atrás da bola em suas longas batinas negras. Lembro do sorriso largo do meu avô ao devolver com o é uma bola que tinha ido parar no seu caminho. Mesmo hoje, na TV, de vez em quando exibem um documentário sobre mulheres africanas empenhadas num jogo de bola. Algumas caem, outras correm enlouquecidas como se estivessem disputando o jogo de suas vidas, e todas mostram uma felicidade que não se vê por aí com tanta espontaneidade.
Acho que são coisas muito distintas: o prazer do jogo de bola e o esporte competitivo. Algumas vezes, numa competição, temos momentos de magia. E são esses momentos que levam as pessoas aos estádios e criam toda a expectativa em torno de uma Copa do Mundo. Por isso, acho injusto que queiram do Dunga uma seleção de artistas, porque ele vai ser cobrado pelos resultados. Só houve uma vez na história em que uma seleção deu show de bola e ganhou todas as partidas que disputou. Foi em 1970, com o Brasil tricampeão no México. Acho muita pretensão e insensibilidade das pessoas querer que este momento mágico se torne uma rotina.

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