sábado, 10 de abril de 2010

A tela no banheiro


Quando o professor, ainda no antigo Clássico, perguntou se a classe preferia a arte discreta de Monet, Manet e Degas ou as cores fortes de Edvard Munch, escolhi este último, por entender que "O grito" era mais condizente com a vida intensa que então levava, que todos os adolescentes levam ainda hoje, imagino eu. Mas me precipitei. Não há nada que se compare com as sutilezas do impressionismo. Basta olhar esta tela de Claude Monet, "Terraço em Sainte-Adresse", que vi pela primeira vez no banheiro do consultório de um médico, no Rio. Sim. um banheiro. E impecável, sem nada a ver com o expressionismo de um banheiro de botequim. O banheiro deste consultório fazia lembrar o comentário de Danuza Leão de que o máximo de educação e etiqueta é deixar o banheiro sem nenhum indício do que aconteceu ali durante a sua estada. Como se você tivesse cometido o crime perfeito. O banheiro do médico do Rio parecia a morada do crime perfeito, tão limpo quanto a sala de um museu num dos grandes centros da Europa.
Mas, voltando ao impressionismo. Gostar dos impressionistas é gostar de bossa-nova e dos filmes independentes europeus. É gostar de tudo que é sutil, que exige contemplação e um olhar calmo para ser melhor saboreado. É abrir mão de seguir as grandes multidões e de participar dos grandes acontecimentos. É ter uma postura humilde e discreta. É entender que Deus está nos pequenos detalhes. É ver na tela "Terraço em Sainte-Adresse" o mar coalhado de barros a navegar a esmo, sentir a presença do sol num céu claro e imaginar o que conversam a senhorita de sombrinha e coberta de sedas e rendas e o cavalheiro enfatiotado como se fosse o dia de seu casamento, num cenário perfeito, em que as flores parecem exibidas e alegres.

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