terça-feira, 7 de junho de 2011

Para Ágatha

Agora que tenho uma neta, já sei quem vai ver as flores cor de rosa das paineiras quando eu já não estiver por aqui. E quem vai reparar nos pares de flores roxas e brancas das quaresmeiras. Talvez alguém diga à Ágatha que o avô dela amava esse tipo de coisa intensamente. Talvez ela ria quando alguém disser que seu avô gostava da algaravia das maritacas, que cortam o céu azul  em busca de não sei o quê. E que gostava do chilreado dos pardais nos beirais das casas.
Se tiver um bico doce, Ágatha vai se deliciar com as frutas, todas as frutas, que seu avô saboreava com avidez, herança de um tempo em que elas eram o beijo roubado da meninice. Se eu ainda estiver por aqui, vou sugerir que ela comece pela melancia e que continue com a doçura absoluta da fruta do conde.
Minha neta vai descobrir suas próprias leituras e músicas, mas desconfio que ela vai gostar das histórias de mares distantes, planetas de harmonia e anjos que perdoam qualquer peraltice. Mais tarde, espero que ela descubra que é bem melhor sair de casa quando se leva na mochila um pouco de poesia. Aos poucos, ela vai fazer o roteiro de seus passeios favoritos na cidade de seus sonhos, aproveitar a companhia da lua e das estrelas e se sentir segura ao saber que o sol, que cobriu de dourado a maior parte da vida do seu avô, vai voltar e que é bom estar por aqui para receber seu calor e brilho.

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