terça-feira, 5 de outubro de 2010

Martin Cruz Smith

Se você gosta de romances policiais, faça um favor a você mesmo: leia Martin Cruz Smith. Apesar de ser o autor de uma obra-prima chamada "Parque Górki", ele não é mais publicado no Brasil. O motivo deste boicote é um mistério até mesmo para Arkady Renko, investigador que é o personagem principal dos romances de Cruz Smith. O novo título da série é "Three Stations". Um bebê desaparece e uma garota é encontrada morta num trailer a poucos metros de uma delegacia, no centro de Moscou. A partir daí, Cruz Smith conta uma história em que policiais cafetizam prostitutas, a opulenta máfia russa promove festa em que é preciso pagar 10 mil dólares só para entrar e o grosso da população se entorpece de vodka.
O bairro boêmio de Moscou virou centro comercial para ricaços e uma dondoca exige que Renko retire seu Lada da área, alegando que o carro (deve ser a Brasília amarela dos russos) é capaz de desvalorizar o preço dos imóveis de todo quarteirão em que estiver estacionado. Os serviços mais perigosos e de salários mais baixos são executados por tajiques, do Tadjiquistão, um dos países que integravam a extinta União Soviética. Os tajiques são cada vez mais numerosos na Rússia e há quem preveja que daqui a 10 anos haverá uma mesquita em cada esquina da capital. Todos os imigrantes de países pobres da antiga União Soviética são chamados pejorativamente de tajiques pelos russos, nos mesmos moldes da discriminação contra turcos na Alemanha, argelinos na França, mexicanos nos Estados Unidos e paquistaneses no Reino Unido. Para não falar nos nordestinos que no Rio e São Paulo são rotulados todos como paraíbas.
A vodka é responsável por quatro em cada cinco crimes violentos que não estejam envolvidos com execuções pagas pela máfia. Segundo Arkady Renko, "a vida seria maravilhosa sem a vodka, mas como o mundo não é uma maravilha, as pessoas precisam de vodka. A vodka está no nosso DNA". Renko tem uma teoria sobre isso: os russos são perfeccionistas. Basta ver a dedicação de enxadristas e bailarinas. As pessoas comuns são perfeccionistas em sua bebedeira, achando que o problema não é fazer com que bebam menos e sim fazer com que os outros bebam mais.
Há personagens fascinantes em "Three Stations", como o patologista Willi Pazenko, que é obeso e bebe e fuma sem parar, definindo a si mesmo como um globo humano que tem um cinto como seu equador. Willi sobreviveu a dois grandes ataques cardíacos, sofre de angina e tem uma pressão arterial capaz de levantar a tampa de um bueiro, podendo cair morto a qualquer momento. E Anna Furtseva, de 88 anos, que fez filmes durante o cerco de Stalingrado e agora fotografa tipos humanos que povoam uma das áreas mais sórdidas de Moscou, a das Três Estações, durante a madrugada. E o policial Victor Orlov, um alcoólico que ficou impressionado com a histórias dos golfinhos que tentaram afogar um banhista no litoral da Grécia, indo contra a sua índole pacífica e prestativa. Descobriu-se depois que o tal banhista era russo. Orlov acha que a história dos golfinhos ilustra bem a teoria de que tudo acontece ao contrário para os russos. Ou então o tal banhista estava bêbado e já teria tentado se afogar tantas vezes que os golfinhos resolveram fazer a sua vontade. Orlov conta outra anedota: existem tantas prostitutas russas na Itália que o novo nome lá para profissional do sexo é Natasha.

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