terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
O segredo de seus olhos
A lista dos filmes que concorrem ao Oscar sempre cria muita expectativa em relação ao que não vimos ainda, mas o candidato que mais me chama a atenção é o trabalho de um diretor que é fiel ao seu estilo de contar histórias sobre a vida cotidiana, sempre com uma volta ao passado. Estou falando de Juan José Campanella, autor de obras encantadoras como "O filho da noiva", "Luna de Avellaneda" e "A mesma chuva, o mesmo amor". Campanella foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com "O segredo de seus olhos", em que pela quarta vez dirige Ricardo Darín.
Campanella é diretor de vários episódios de conceituadas séries da TV americana, como "House" e "Law and Order", o que mostra a excelência de sua técnica. Mas o que faz dele um diretor acima da média, um cineasta, que se destaca não só no cinema argentino, que é hoje o melhor cinema da América Latina, é a sensibilidade de seu tema favorito. "Sou interessado no tema da recordação, das memórias. Acredito que é importante encerrarmos as etapas de nossas vidas. Meus filmes têm isso, personagens que querem seguir adiante e precisam voltar ao passado para resolver algumas situações. Pode acontecer com todos nós: precisamos encerrar ciclos para começar uma nova vida", disse Campanella numa entrevista sobre seu novo filme.
O que encanta Campanella e seus admiradores são histórias de personagens normais em situações verdadeiras. Campanella não precisa de efeitos visuais nem de realismo mágico para dar vida à realidade. Ele conta com paixão uma história. No caso de "O segredo de seus olhos", é uma história de amor. "São vários tipos de amor. O amor sublime, o interrompido, o perverso. O amor é que conduz a história", disse ele.
A cada filme, Campanella se supera. Não que cada novo filme seja melhor do que o anterior. Ele se supera no sentido de nos surpreender com roteiros perfeitos e diálogos que ficamos repetindo pela vida afora. "Luna de Avellaneda" é um hino de amor ao passado, de exaltação da nostalgia, um poema sobre a necessidade de se valorizar as coisas boas que vivemos na companhia de pessoas amadas. "A mesma chuva, o mesmo amor" é romântico como "Romeu e Julieta", com todos os problemas que os adolescentes de Verona teriam enfrentado caso não tivessem morrido tão jovens. "O filho da noiva" é um acerto de contas em família, um guia sobre como vencer as dificuldades de se agregar quem é diferente, quem nos magoou, quem a gente gostaria que fosse de um outro jeito.
Talvez "O segredo de seus olhos" não ganhe o Oscar. Mas é o filme que mais me interessa ver.
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