
Uma pessoa querida procurou um terapeuta em busca de ajuda para uma ansiedade que prejudicava sua concentração para as provas da faculdade. O terapeuta disse que muitas vezes fazemos coisas que não queremos fazer, que nos causam muito dano emocional e até físico, e não sabemos por quê. E citou como exemplo o amigo ou namorada de que nos afastamos, mesmo gostando muito deles, sem que houvesse uma razão para isso.
Fico pensando em como a minha vida teria sido diferente, se eu tivesse sido ajudado a superar este estranho comportamento. Lembro de uma música de Lupiscínio Rodrigues, em que ele falava que os moços têm a tendência de deixar o céu, por ser escuro, e ir ao inferno à procura de luz. A canção falava também da incapacidade dos moços de ouvirem conselhos de modo a evitar esta armadilha contra eles mesmos.
A gente se afasta de quem nos faz bem e procura a companhia de quem nos faz sofrer. Este é um mal tão imenso que deveria haver meios de prevenção, disponíveis a todas as pessoas desde a adolescência. Depois passamos a vida querendo voltar ao momento anterior ao rompimento, para salvar nossos corações e almas.
Este é o tema do livro "Trem noturno para Lisboa", de Pascal Mercier. Como o personagem principal, eu ainda estou lá, naquele distante lugar do passado, nunca saí de lá. Continuo sendo o menino que escondia o rosto nos braços de meu avô, para não ver os horrores que imaginava no Trem Fantasma do parque de diversões. Continuo sendo o garoto que voltava com a namorada a pé da escola só para estar por mais tempo perto dela. Quando deixamos determinado lugar, deixamos para trás um pedaço de nós. E há coisas em nós que só recuperamos se voltarmos para lá.
Ah querido Alvaro!
ResponderExcluirExistem coisas que perdi na passada do tempo e que sei jamais vou recuperar.
De sonhos ainda guardo a menina de cabelos dourados ao vento e pés descalços e secretamente, lá num cantinho do coração, uma esperança boba.
Obrigada por me dar a oportunidade de ler coisas tão lindas!