
Tom Hanks chegou na frente do palco, disse meia dúzia de palavras e, sem fazer nenhum suspense, anuciou o ganhador do Oscar de melhor filme. Foi o anticlímax de uma festa que teve altos e baixos, sendo que os baixos não serão esquecidos tão cedo. Como relevar o fato de que a sem graça Sandra Bullock, no papel de uma perua bem intencionada, tenha superado grandes atrizes, como Meryl Streep e Helen Mirren? Sean Penn estava tão desconsolado de ter que entregar a estatueta para Bullock, que chegou ao palco mal ajambrado, a camisa aberta, o nó da gravata folgado, o terno amassado, e um discurso em que deixou bem claro que não faz parte da Academia de Artes e Ciências de Hollywood. Se quisessem premiar uma novidade, pois afinal Meryl Streep e Helen Mirren já estão consagradas, que dessem o Oscar para a novata Gaborey Sidibe.
Os altos da festa ficaram por conta dos depoimentos de atores sobre seus colegas indicados ao prêmio deste ano. O depoimento de Stanley Tucci valeu mais do que o Oscar para Meryl Streep, assim como o de Tim Robbins para Morgan Freeman. Estatuetas pegam poeira, podem ser roubadas, mas o que milhões de pessoas ouviram sobre suas atrizes e atores favoritos vai ficar gravado no imaginário de quem ama o cinema. É para isso que vemos a cerimônia do Oscar e não para nos sujeitarmos à politicagem de Hollywood.
"Guerra ao terror" (The hurt locker), grande ganhador da 82ª edição do Oscar, talvez seja o melhor filme do ano, mas ficou evidente que ele só foi escolhido pelo apoio que dá às intervenções militares no Iraque e Afeganistão. A diretora do filme, Kathryn Bigelow, deixou isso claro em seu discurso de agradecimento. Os atores comemoraram como se tivessem capturado Osama bin Laden. A Academia esnobou o outro favorito, "Avatar", talvez pelo seu discurso contrário ao estrago que as grandes empresas causam ao planeta em sua busca insaciável por lucro.
Agora vamos aos bons momentos da festa: Jeff Bridges, Oscar de melhor ator, confirmou nossas suspeitas de que é uma figuraça, é o grande Lebowski, personagem de um antigo filme dos irmãos Coen, com quem se identificou às mil maravilhas, de jeito relaxado e em paz com o mundo à sua volta. Christoph Waltz, Oscar de melhor ator coadjuvante, fez o melhor discurso da noite, resumindo os fatos que o levaram ao sétimo céu das estrelas do cinema.
Mas, do que eu gostei mesmo, foi dos apresentadores. Steve Martin e Alec Baldwin salvaram a noite, com tiradas inteligentes e hilárias, reeditando a química das grandes duplas da comédia, como Laurel e Hardy, Abbott e Costello, Dean Martin e Jerry Lewis. Mas, de um modo geral, o Oscar emagreceu: os números musicais foram poucos e o recurso ao arquivo de imagens foi discreto. A homenagem a John Hughes, diretor de "Curtindo a vida adoidado", poderia ter sido mais bem elaborada, terminando talvez com Matthew Broderick cantando rock em cima de um carro para uma multidão de estudantes.
Foi ótimo o Oscar de melhor filme estrangeiro para "O segredo dos seus olhos". O cinema argentino merecia este prêmio e Juan José Campenella, como melhor diretor argentino, merecia mais ainda.