quarta-feira, 30 de junho de 2010

As formas do mar

Sabia que você um dia viria
quando conheci a vastidão
do oceano e suas formas
de chegar sempre à praia.

Minha tristeza são pedras
que seus beijos reduziram
à fina areia que te espera
e se mistura às suas águas.

Encantos cor de rosa

Minha alma tem muitas asas
e chega a você num instante
sempre que você me chama
com um suspiro do coração.

Minha alma tem muitas cores
e se veste de azul no espaço
em que te espero amanhecer
com mil encantos cor de rosa.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Alegrias aos pares

Que as alegrias venham aos pares,
saltitantes e de ti enamoradas.
Que a paz cubra o teu caminho
com um manto macio e azulado.
Que doces sonhos te acalentem
e te protejam contra a realidade.
Que os raios do sol só permitam
que chegue a ti toda a bondade.

Tudo o que vivemos antes

Meu amor por você é toque,
mas é também lembrança.
É o que minha pele sente,
mas é a ternura guardada,
tudo o que vivemos antes.
Meu amor por você é voraz,
mas é também homenagem.
Você é êxtase e saciedade,
meu desejo de maior prazer
e também amor e felicidade.

Perfil de luar

Quando, ao final de tudo,
eu descer ao solo mais duro,
terei deixado bem alto no céu,
no mais distante dos sonhos,
o teu perfil de luar no caminho,
o rosto que a vida me deu de você.

Porque só você guarda estrelas
na ponta da língua rosada.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Vestido cor de salina




















Eras a moça de vestido branco,
com os pés beijados pelas ondas,
e cabelos cor do sol de abril.

Todo o segredo do mar era teu,
o canto das vagas nas conchas,
as algas dos dias de calmaria,
a dança na ponta das estrelas.

Teu olhar ia aos mares do sul,
habitava alguma ilha esquecida,
país do amor eterno e distante,
de naufrágios com finais felizes.

Lá te espero sobre a areia fina,
onde escrevo todos os dias
teu nome de espuma, gaivota,
moça do vestido cor de salina.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A face de Deus


O escritor português José Saramago dizia que não era um ateu radical, que de vez em quando procurava por Deus, só que não encontrava nenhuma resposta. Fico pensando que bastava que ele tivesse olhado para o lado, para Pilar del Rio, sua esposa, para que pudesse ver a face de Deus. Enfrentamos tantas dificuldades na vida, rejeições, grandes e pequenas maldades, mesquinharias, que só pode ser uma intervenção que, de vez quando, apareça alguém que nos ame de verdade, alguém que se interesse por nós, que queira o nosso bem. Basta olhar o sorriso bondoso no rosto destas pessoas para vislumbrar Deus, perceber que para ter esta revelação tudo vale a pena.
Pilar del Rio não conhecia nada sobre Saramago quando encontrou um exemplar de "Memorial do Convento" numa livraria de Sevilha. Jornalista, quis entrevistá-lo. Dois anos depois, estavam casados. Ela com 36 anos. Ele já com 64 anos e dois casamentos. Lembra a anedota dos três barquinhos, em que um homem se afoga durante uma inundação depois de implorar a Deus para salvá-lo. Esperando talvez um resgate apoteótico, do tipo em que as nuvens se abrem e descem anjos louros de olhos azuis, ele recusa a ajuda de três pessoas que passam pela sua casa em botes improvisados. Ao chegar ao céu, ele reclama com Deus. E Deus se defende: "mas, eu te mandei três barquinhos!"
Não sei se Saramago teve outros dois barquinhos, mas Pilar del Rio tentou resgatar a fé do escritor português. Não com palavras, mas com sua dedicação e seu exemplo. Saramago, um comunista renitente, de carteirinha, talvez não quisesse admitir que acreditava em Deus, para que não caçoassem dele por esta conversão de fim de vida, talvez não quisesse ser tachado de oportunista. Esta é uma questão que ele deve ter acertado com Deus, longe dos holofotes da mídia. A fisionomia serena de Pilar nas últimas homenagens ao escritor me fazem acreditar que ele deixou o mundo não como um comunista mal humorado e inflexível, mas sim como um homem que no final da vida voltou a ser menino e descobriu o amor.

terça-feira, 15 de junho de 2010

As linhas mais simples da vida

É no seu rosto que
percorro as linhas
mais simples da vida,
os mistérios do mar
e a imensidão azul.

É no seu rosto doce
que o mundo ri e me
faz sentir bem-vindo.
Seu olhar me guarda,
me aceita e me guia.

É nas suas palavras
que acho conforto,
perdão e companhia.
Palavras que animam
minha alma e a vida.

Primeira namorada

O primeiro amor não acaba. Ele pode ficar em suspenso, para ser recomeçado, caso se tenha esta sorte, ou então para ser guardado como um tesouro, como uma daquelas recordações que são capazes de nos salvar a vida nos momentos mais difíceis. E o primeiro amor não é necessariamente aquele cronológico, mas o primeiro momento em que nos entregamos ao romantismo, em que reparamos no calor da mão da namorada, em que abraçamos aquela menina linda e andamos sem pressa pela calçada roçando os ramos de jasmim.
Como era bom sair de casa, de olho no relógio, para chegar na porta da escola dela antes do sino bater. E ficar procurando aquele rosto meigo em meio às outras meninas, e sentir o universo ficar mais colorido quando aquele rosto doce se volta na nossa direção e sorria com a alegria que só está acessível aos apaixonados. E ficar depois horas no telefone, conversando sobre qualquer coisa, como por exemplo se o sorvete de manga da Kibon tem ou não leite em sua fórmula.
É o nosso primeiro amor que a vai nos salvar um dia, É ele que esperamos encontrar na esquina de uma rua qualquer, na esperança de que ele nos olhe daquele jeito incondicional que nos saudava na saída da escola. Estou convencido de que todos os nossos gestos de carinho, o que temos de romantismo, nosso sorriso mais terno, os poemas que escrevemos, são sempre uma homenagem ao primeiro amor, pois foi a primeira namorada que nos ensinou a amar a vida.

Sonho de eternidade















Porque quando miro teus olhos
já não escuto ou penso nada,
vivo o instante de tua presença
como um sonho de eternidade.

Porque és todas as crianças boas,
e as mães que as cuidam alegres,
e anjos que todo o bem guardam.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Pétalas de seda breve

Como posso dizer que voam
as borboletas de traje branco
que saltitam na primavera?

Dão laços na cor do vento
e são alegres como quem tem
mil gotas de néctar à espera.

Pétalas gêmeas de seda breve,
Borboletas bordam o destino
floreando os novos caminhos.

Seu voo flui como leve sorriso
e volteia na melodia da brisa,
são as garatujas dos meninos.

São como silêncio em movimento,
de quem escuta o mel das flores,
as borboletas do meu carinho.

A noite em que o termômetro parou


O termômetro da praça em frente à minha casa parou esta noite. Devia estar fazendo uns 8 graus, temperatura em que os pinguins ainda tiram a camisa e tomam sorvete. Mas, o termômetro, que só faz isso na vida, teve um piripaque. Nós que não fomos feitos para isso, e vivemos num país tropical justamente para evitar estas situações congelantes, temos que aguentar esta mensagem das geleiras eternas dos confins do mundo, sem ter nem a compensação de saber a quantas andava a frialdade. Os militantes do Greenpeace que não apareçam por aqui tão cedo para alertar sobre o aquecimento global, pois serão recebidos com a devida frieza.
Esta não foi a primeira vez que o termômetro da pracinha congelou. Sempre que a temperatura cai para um dígito, ele se recusa a trabalhar. É como se hibernasse. É como se tivesse abandonado tudo para se abrigar numa caverna, nos braços de um urso com pelo amaciado à base de Comfort. As altas temperaturas ele aguenta bem. Não derrete, nem se abana. Deveriam colocá-lo numa esquina do Deserto do Saara, na confluência de uma rota de caravanas, para informar a temperatura aos tuaregues. Se bem que - um nômade que eu conheço me informou - à noite, as areias do deserto esfriam, como se tivessem sido substituídas por gelo em pó. Não ia dar certo.
Chuvas torrenciais, calor senegalesco, fogos de artifício, engarrafamentos, buzinaços, trovões e relâmpagos, nada afeta o termômetro da pracinha. Só o frio intenso. Talvez ele sofra de má circulação, talvez não seja movido a mercúrio, como os termômetros caseiros, e sim a água, que é ecologicamente correta, mas congela. Talvez seja ajustado manualmente. Um homenzinho vem e, sem que ninguém veja, ajusta os números. Só que, quando o frio aperta, ele pega no sono, junto a alguma lareira, e abandona o termômetro à própria sorte. E o termômetro, sabendo disso, se recusa a funcionar, imaginando que alguém vai ligar para a companhia reclamando e o homenzinho terá que vir conversar sobre graus centígrados, fazendo com que tudo volte à normalidade.

domingo, 6 de junho de 2010

Uma casa entre as árvores
















Queria fazer com minhas mãos
uma casa em meio às árvores,
que desse boas vindas ao sol
e ao mesmo tempo abrigasse
amigos, flores e passarinhos.
Uma casa de paredes brancas,
telhas da cor de seus cabelos.
Uma casa para te encontrar,
onde escrever sobre nós dois.
Com janelas sempre abertas,
para deixar o vento trazer
o aroma de flores do campo.
Uma casa com espaço para
as esperanças e joaninhas.
Um lugar no meio do mundo
tendo o amor como endereço.